Ricardo da Costa[1]
Bárbara Dantas
* Se precisar citar, tê-lo como referência, seguir:
COSTA, Ricardo da; DANTAS, Bárbara. “No sermon mui gran gente que y era”: os frades pregadores nas Cantigas de Santa María (séc. XIII).” In: ALVES, Aléssio Alonso (org.). In: Ordens religiosas na Idade Média (sécs. XII-XV): concepções de poder e modelos de sociedade. Belo Horizonte: LEME/UFMG, 2015, p. 21-43. Disponível em: https://www.barbaradantas.com/post/os-frades-pregadores-nas-cantigas-de-santa-maria-s%C3%A9c-xiii e https://www.ricardocosta.com/artigo/no-sermon-mui-gran-gente-que-y-era-os-frades-pregadores-nas-cantigas-de-santa-maria-sec-xiii
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RESUMO: Com o gradativo enriquecimento da sociedade medieval na Idade Média Central, os vícios também se disseminaram. Avaritia, superbia, luxuria. O Setenário ganhou corpo. Se os séculos XI e XII caracterizaram-se pelo domínio dos monges que viviam para o ora et labora, a partir de suas clausuras nos monastérios rurais, díspar foi o séc. XIII. Em todo Ocidente pulularam as ordens de frades pregadores que, a partir das catedrais urbanas e dos aglomerados citadinos, tornaram-se mestres da intelectualidade, dedicados e humildes disseminadores da Palavra de Cristo e dos ensinamentos da Bíblia. Com os exempla (breves sermões com uma narrativa mnemotécnica simples e repetitiva para conquistar uma plateia) Dominicanos e Franciscanos esforçaram-se abnegadamente em conquistar mentes e espíritos para a prática de um Cristianismo mais pio, próximo da Vita Christi, da pobreza e da simplicidade dos primeiros apóstolos. O objetivo desse trabalho é apresentar duas representações textuais e imagéticas de frades Dominicanos e Franciscanos contidas nas Cantigas de Santa María, compilação de milagres e louvores implementada pelo rei Afonso X (1221-1284) de Castela e Leão. Nosso levantamento temático das Cantigas, além de nosso método compreensivo-histórico (traduzi-las diretamente dos originais e realizar uma descrição iconográfica de duas iluminuras das cantigas 103 e 266), trouxe-nos interessantes questões à baila sobre as relações entre texto e contexto, entre imagem e suporte, entre Arte e História. Sem Arte, sem Cultura, não é possível pensar, repensar e recriar o passado, especialmente o da Idade Média, solo tão fértil no qual brotaram tantas manifestações artísticas.
PALAVRAS-CHAVE: Iconografia Medieval; Cantiga; Frades Pregadores.
RESUMEN: Con el enriquecimiento gradual de la sociedad medieval en la Edad Media central, los vicios también se han extendido. Avaritia, Superbia, Lujuria. El Septenario ganó cuerpo. Si los siglos XI y XII se caracterizaron por el predominio de los monjes que vivían para el ora et labora en sus claustros de los monasterios rurales, díspar fue el siglo XIII. En todo Occidente pululaban las órdenes de frailes predicadores que, desde las catedrales urbanas y los aglomerados citadinos, se hicieron maestros de la intelectualidad, dedicados y humildes difusores de la Palabra de Cristo y de las enseñanzas de la Biblia. Con los exempla (sermones cortos con una narrativa mnemotécnica simple y repetitiva para ganar una audiencia), dominicos y franciscanos lucharon abnegadamente para ganar las mentes y los espíritus para la práctica de un cristianismo más piadoso, cerca de la Vita Christi, de la pobreza y de la simplicidad de los primeros apóstoles. El objetivo de este trabajo es presentar dos representaciones textuales y imagéticas de frailes dominicos y franciscanos que hacen parte del contenido de las Cantigas de Santa María, copilación de milagros y alabanzas implementadas por el rey Alfonso X (1221-1284) de Castilla y León. Nuestro estudio temático de las Cantigas, además nuestro método compreensivo-histórico (su traducción de los originales y realizar una descripción iconográfica de dos iluminaciones de las canciones 103 y 266), nos trajo preguntas interesantes para la discusión sobre la relación entre el texto y el contexto, entre la imagen y el soporte, entre Arte y Historia. Sin arte, sin cultura, no se puede pensar, repensar y recrear el pasado, especialmente la Edad Media, suelo fértil en el que brotó tantas manifestaciones artísticas.
PALABRAS-CLAVE: Iconografia Medieval; Cantiga, Frailes predicatores.
ABSTRACT: With the gradual enrichment of medieval society in the Central Middle Ages, the vices also are widespread. Avaritia, superbia, luxuria... The Septenary grew up. If the XI and XII centuries were characterized by the dominance of the monks who lived for the ora et labora from their cloister in rural monasteries, distinct was the XIII century. In the Medieval West, swarmed the orders of preaching friars who, from the urban cathedrals, of the agglomerates cities, have become masters of the intellectuality, but especially, dedicated and humble disseminators of the Word of Christ and the teachings of the Bible. With the exempla (short sermons with a simple and repetitive narrative Mnemotechnic in order to convince the audience), Dominicans and Franciscans strove selflessly to win minds and spirits to the practice of a more pious Christianity, nearest Vita Christi, from the poverty and simplicity of the first apostles. Our thematic survey of the Cantigas, beyond our understanding-historical method (translate them directly from the original and realize an iconographic description of two illuminations of 103 songs and 266), brought us interesting questions about the relationship between text and context, between image and support, between Art and History. Without Art, without Culture, you cannot think, rethink and recreate the Past, especially the Middle Ages, fertile period in which so many artistic manifestations.
KEYWORDS: Medieval iconographic; Medieval Songs; Preaching Friars.
Imagem 1: Margem inferior de uma página da Bíblia de Abbey. Bolonha, Itália (c. 1250-1262). Jean Paul Getty Museum, Ms. 107, folio 224r. Têmpera e folha de ouro sobre pergaminho
Frades dominicanos e franciscanos cantam. Suas vestimentas são os atributos iconográficos que os diferenciam.[3] Cada grupo está na frente de um enorme livro, ricamente iluminado e apoiado sobre um atril. Os dominicanos são presenteados com a regência do próprio Cristo. Realizada por uma renomada oficina de artífices bolonheses especializados na produção de bíblias iluminadas góticas, esta Bíblia foi encomenda de um mosteiro dominicano. Isso explica o fato de Cristo regê-los e não aos franciscanos – que, na iluminura, observam tristes, a preferência divina.[4] A utilização de imagens nas margens não é algo que ocorreu ao longo de todos os séculos medievais. Elas começaram a abrigar imagens a partir do século XII. As iluminuras marginais dos manuscritos são fontes complexas e fabulosas. Estão entre as que melhor preservam a arte medieval, pois expressam as muitas faces da realidade e da cultura da época.[5]
1. O Exército de Deus
Especular os enigmas do Universo, criação de Deus. Absorver em toda sua plenitude espiritual as palavras bíblicas. Até o século XII, ser um religioso, particularmente um monge, também significava dedicar-se a estas atividades espirituais.[6] O princípio de vida nos monastérios era o ato de compartilhar a existência em comunidade. Nela, cada um na solidão, todos nas homilias, estariam absortos para estudar a Palavra e orar pela Humanidade. Pensava-se a Humanidade de então sob diversos aspectos e formas: o filósofo Ramon Llull, por exemplo, deixou para a posteridade um quadro social do séc. XIII rico em diversos ofícios e funções, distribuídos nas artes liberais, musicais, religiosas e mecânicas (COSTA, 2006: 136). Para outros pensadores do período, a sociedade feudal seria tripartida, os camponeses seriam os laboratores; os nobres, os bellatores, e os religiosos, os oratores.[7]
Contudo, orar também era combater. Lutar contra as forças do mal. Aqueles foram tempos nos quais viver era uma luta cotidiana. A natureza era indócil, incompreendida. As massas empobrecidas lutavam contra os infortúnios de uma vida rude. Os terrores da guerra atormentavam a todos, sem distinção. Lutar, para os religiosos, era rezar contra as forças demoníacas que não se cansavam de tentar os homens a praticar o mal. Cristo, nos séculos XI e XII, era costumeiramente, representado como Majestas Domini (Senhor do Universo),[8] simbolismo máximo de uma divindade soberana, alicerce aos crentes em sua luta contra o mal.
Imagem 2: Giotto di Bondone (1267-1337). São Francisco expulsa o Diabo de Arezzo, c. 1296/97. Basílica superior de São Francisco de Assis – Itália. Detalhe do afresco.
As paredes da nave da Basílica estão decoradas com frescos que contam a história do Poverello, o monge mendigo, Francisco de Assis (1182-1226). A partir da entrada do santuário, somos rodeados pela genialidade de Giotto. Os frescos cobrem as paredes inferiores e, na parede superior, juntam-se aos vitrais do clerestório para narrar, de forma plástica, os principais eventos da vida do santo em diversos quadros com iconografia historiada.[9] A dramaticidade das cenas não está apenas nas expressões faciais dos personagens – característica estilística que alçou Giotto ao grau de excelência na História da Arte –, mas também no panejamento das roupas, na movimentação dos corpos e nas curvas arquitetônicas que indicam, retrospectivamente, uma perspectiva pré-renascentista que ali nascia. Na Imagem 52, São Francisco luta contra sete forças diabólicas, possivelmente uma personificação dos sete pecados capitais. Sua espiritualidade e abnegação deram-lhe forças para cumprir seu papel no combate aos vícios que o diabo incitava a Humanidade a praticar.
2. O monaquismo ocidental
Imagem 1: Le Mont Saint Michel. Normandia, França. Séc. VIII.
“Maravilha do Ocidente”. Sua importância ultrapassou fronteiras. A abadia está no centro de uma imensa baía invadida pelas marés altas das praias da Normandia. Construída e consagrada como igreja em homenagem ao arcanjo Miguel, chefe da milícia celestial, no ano de 709. Uma comunidade de beneditinos se estabeleceu no santuário em 966 e a igreja pré-românica foi construída antes do ano mil. No século XI, a abadia (românica) foi fundada sobre um conjunto de criptas, no cume da rocha e os primeiros edifícios monásticos foram construídos na parede norte. No século XII, os edifícios do mosteiro foram ampliados. Após a conquista da Normandia o rei Filipe Augusto (1165-1223) mandou executar as obras de ampliação e ornamentação de dois edifícios góticos.[10] Sobreposição de estilos. No decorrer da Idade Média, grande parte dos santuários, ao invés de serem substituídos por outros, sofreram alterações, ampliações, ornamentações.[11] Variações de contextos políticos e estéticos. Evolução das técnicas e da riqueza dos materiais, em uma estrutura na qual a religiosidade, soberana, imperava. Nas Cantigas de Santa María, o mosteiro é o palco da cantiga 39 na qual a escultura da Virgem Maria, milagrosamente, permanece intacta depois de um terrível incêndio: Ond´ avẽo em San Miguel de Tomba, no mõesteiro que jaz sobre lomba dũa gran pena, que já quant´é comba, em que corisco feriu noit´ escura.[12]
No Céu, morada de Deus, os santos formavam um exército de combate. Na Terra, os monges eram o exército de Deus. Suas vidas abnegadas em prol da oração e do conhecimento da Palavra estavam, de modo geral, ordenadas pelas premissas de São Bento (480-547). Ele transpôs para o papel os ideais de uma vida cenobítica voltada à oração e à pobreza de forma simples e, sobretudo, praticável. Por isso, majestosa. Contrariamente aos costumes monásticos dos primeiros séculos da Idade Média, a regra beneditina não exigia um grau de mortificação física e espiritual irrealizável para a grande maioria.[13]
1.Escuta, filho, os preceitos do Mestre, e inclina o ouvido do teu coração; recebe de boa vontade e executa eficazmente o conselho de um bom pai 2. para que voltes, pelo labor da obediência, àquele de quem te afastaste pela desídia da desobediência. 3. A ti, pois, se dirige agora a minha palavra, quem quer que sejas que, renunciando às próprias vontades, empunhas as gloriosas e poderosíssimas armas da obediência para militar sob o Cristo Senhor, verdadeiro Rei.[14]
Uma das primícias da Regra era fechar-se em comunidades religiosas independentes, autossuficientes, para assim driblar o flagelo da fome e fortificar-se contra os invasores.[15] Mas, sobretudo, no ambiente monástico, a fé e a cultura eram enaltecidas. Obediência e humildade. Os monges obedeceriam ao abade, mas viveriam em igualdade perante seus pares. Silêncio: por meio da leitura da Palavra, os monges impregnariam seus espíritos em Cristo. Labor: a vida ascética foi minimizada em prol do trabalho manual. A produção de manuscritos, por exemplo, uniu a necessidade de difundir os ditames da religião à de ocupar o tempo com uma prática laborativa.
3. Um novo tempo
Imagem 2: Fra Angelico (1417-1455). A morte de São Domingos, 1434-1435, painel do retábulo, Coroação da Virgem do altar do convento de São Domingos, Florença - Itália. Louvre – Paris.
Passagens da vida de São Domingos de Gusmão (1170-1221), fundador da ordem dominicana, estão representadas em cinco quadros na predela do retábulo da Virgem localizado no Louvre. Terceiro dos cinco quadros, mostra o santo em seu leito de morte.[16] Um filactério sai da boca do moribundo frade: são palavras de consolo e fé para os que permanecerão no mundo terreno e continuarão a pregar o nome de Cristo e assim trazer para a salvação os que estão perdidos e em pecado. O gesto de São Domingos, com a mão direita a admoestar os presentes, chamam-nos às obrigações como militantes de Cristo.
O séc. XII foi um tempo de estupefação. Substanciais mudanças nas práticas das ordens monásticas aconteceram. Não mais a clausura e os trabalhos manuais absorveriam integralmente as forças dos devotos monges. Eram novos tempos. A fome recuou. As cidades cresciam. O comércio florescia e a riqueza começava a se propagar. Para os religiosos mais conservadores, esta mesma riqueza começava a corromper e degradar a alma e, por fim, induzir os fiéis ao pecado. A partir de então, a luta contra as forças diabólicas precisaria mais do que de orações solitárias e homilias suplicantes. Exército de Deus na terra, os monges precisariam sair para enfrentar a vida secular, o mundo.[17]
Maior ordem religiosa do século XI, Cluny foi invadida pela riqueza. Um luxo em prol da magnificência do Paraíso. Suas abadias e mosteiros foram as mais majestosas obras de seu tempo, pois se difundiram pelos campos de todo o Ocidente Medieval. Talvez por isso mesmo é que alguns monges cluniacences tenham sido acusados de glutonaria e de serem mais afeitos a disputas políticas que a uma vida em prol da oração e da caridade. Talvez. A decadência da vida monástica já se insinuava.[18]
Tudo começou nas cidades, diziam os moralistas, naqueles conglomerados de pessoas e de práticas tão diversas em um circunscrito espaço geográfico.[19] A cidade começou a se sobressair frente aos campos. O feudalismo, fundamentado sobre a propriedade fundiária, estava em decadência. Os mosteiros, que dominavam as paisagens campestres, perdiam terreno. A catedral passava a ser a protagonista da vida social. Seus pináculos demarcavam, nas alturas, a extensão da influência desta ou daquela cidade. Quanto maior a catedral, maior a força espiritual da urbe (DUBY, 1995: 77).[20]
4. As ordens religiosas nas Cantigas de Santa Maria
Galego-português medieval: a língua poética preferida pelo mecenas da obra, Afonso X, o Sábio (1221-1284). Nossas atividades de pesquisa se iniciaram com as agruras e os prazeres da tradução.[21] Para uma compreensão a mais fidedigna possível de uma fonte histórica, devemos, antes de tudo, procedermos àquilo que denominamos de compreensão apreensiva: para que a vida dos mortos, sua sabedoria, seja transmitida a nós da forma mais fidedigna possível é necessário que tenhamos um ato de submissão, isto é, um abrir-se à experiência do outro, e que isso se transforme em uma espontânea aceitação e acolhida da “sempre complexa e paradoxal integralidade existencial”. Essa submissão significa ter uma postura moral de hospitalidade, de receptividade, que se traduz no historiador na “criação de um espaço mental de acolhida do estrangeiro, já que o outro será sempre diferente em sua especificidade, embora passível de ser compreendido e respeitado em sua integralidade.”[22]
Imagem 3: Andrea da Firenze (1343-1415). Detalhe de O Triunfo da Igreja (c. 1367). Igreja de Santa Maria Novella, Florença – Itália.
Os dominicanos dominam todo o cenário. Trata-se da glória da ordem em um único afresco. Militantes por excelência, cães do Senhor, eles estão em toda parte – estavam em todas as partes.[23] À esquerda, junto com outros religiosos, em frente à catedral de Florença. Com a força de sua retórica, persuasiva, dominavam os sermões litúrgicos. À direita, três frades pregam em meio a cães e pessoas de diversos tipos. Conquistavam os espíritos rudes com os exempla. Acima, à direita, São Domingos encaminha os Bem Aventurados às portas do céu, pois os dominicanos salvavam vidas em Cristo. No alto à esquerda, dentre os escolhidos para vislumbrar a Glória de Deus, está um dominicano. Incansáveis leitores. Fervorosos crentes. Exímios professores. Suas palavras firmes, porém doces, ajudaram a Igreja Católica a reinar, soberana, nas mentes e espíritos dos homens medievais.
Após esse procedimento mental, devemos conhecer a totalidade da série documental escolhida para estudo, no que já foi chamado de leitura isotópica.[24] Nela, o pesquisador lê sua fonte atento aos termos que se repetem nele para “fortificar a confiança nas hipóteses formuladas”. A partir deste método, estudamos os cerca de 420 relatos de milagres e louvores contidos nas Cantigas de Santa Maria para encontrarmos a presença de dominicanos e franciscanos na obra.
O monge desprezava o mundo. Vivia na comunidade monástica. Os frades das ordens mendicantes, religiosos fervorosos tanto quanto os monges, viviam, no entanto, nas aglomerações populares. Defrontavam os vícios e as tentações da sociedade leiga. Pedintes, sobreviviam das doações de alimento. Pregavam pelo mundo o Evangelho e a penitência. Após o Concílio de Leão (1274), a Igreja consentiu com a existência de quatro ordens mendicantes: os pregadores (dominicanos), os menores (franciscanos), os carmelitas e os agostinhos.[25]
A recorrência das ordens religiosas nas Cantigas de Santa Maria é percebida na repetição das palavras mongia (convento), mõesteiro, monge, clerigo, crerigo, frade mẽor ou monje.[26] Ao pesquisador compete diferenciar estes religiosos a partir do texto do qual faz parte o termo. Algumas cantigas mostram a presença de personagens religiosos, mas não é possível identificar somente nos textos a ordem religiosa da qual fazem parte. A análise da iluminura correspondente à cantiga costuma dirimir dúvidas. Um levantamento das iluminuras do fac-símile do Códice Rico e do Códice de Florença abrigados na PUC-Minas nos mostrou a presença de ordens religiosas em 65 iluminuras. Dentre estas, 15 iluminuras com representações de franciscanos e 22 com dominicanos.
5. Os frades menores: São Francisco de Assis
Imagem 4: El Greco (1541-1614). São Francisco em oração diante do crucificado (1587-1596), óleo sobre tela. 105 x 86 cm. Bilbao, Museu de Belas Artes.
No frescor da juventude, com apenas 25 anos, Francisco de Assis (c. 1181-1226) despiu sua túnica e seguiu, cantando pelos montes, para a cidade de Gubbio. Lá recebeu um rude hábito de ermitão, sandálias, um bastão e um cinto de couro. Dois anos depois, após escutar um sermão que considerou sublime, desfez-se de seu cinto. Em seu lugar, amarrou na cintura uma modesta corda.[27] Foi o desfecho de uma marcha para tornar-se um exemplo de vida simples, semelhante à de Cristo. Na pintura, El Greco utilizou magistralmente toda a simbologia religiosa em torno da veste de São Francisco. Criou uma imagem na qual o manto e a corda são os maiores atributos iconográficos de seu voto de pobreza e piedade. Os franciscanos ficaram conhecidos na França medieval pelo uso da corde e ganharam, portanto, a denominação de Cordeliers.[28] A corda, que firma sua túnica, cai pelo chão. Quando trocou o cinto pela corda, sentiu-se, enfim, pronto para pregar. Uma simples corda, para um humilde frade de Deus.
5.1 Os Franciscanos nas Cantigas de Santa Maria
Mesmo com a igreja abarrotada de fiéis, ela ainda está em construção. Isso não era algo estranho para a Idade Média, pois as ampliações ocorriam justamente para acolher as massas cada vez maiores de fiéis. Por exemplo, o abade Suger de Saint-Denis (c. 1081-1151), ao narrar as obras em sua abadia, explica que antes de transformá-la em um canteiro de obras, os crentes acorriam ao santuário a ponto de não haver espaço para todos. Notemos, na iluminura, os arcos ogivais e as fileiras de tijolos incompletos. Os construtores. Os andaimes de madeira. Nada poderia impedir a pregação. Nem os ruídos das roldanas, nem o martelar do pedreiro. Em todos os lugares com aglomeração de pessoas, grandes centros ou pequenas vilas, lá estavam os franciscanos, testemunhas vivas de um modo de vida cristão. Convertiam os incrédulos com seu testemunho, por meio de metáforas, por meio de exemplos das vidas dos santos, dos mártires, das pessoas comuns. Para o papado, os franciscanos auxiliavam os clérigos locais a manter o rebanho cristão unido e fiel.[29]
Frades mẽores.[30] São Francisco se intitulava um frade menor, ou seja, um humilde servo da Igreja. A ela ele devia servir. Os franciscanos são importantes personagens nas Cantigas de Santa Maria. A repetição do termo – frades mẽores – em diversos relatos de milagres sugere uma considerável presença e difusão da ordem franciscana na sociedade castelhana, na sociedade medieval. A Cantiga 96 é o relato de um homem que tentou agradar a Virgem, mas esqueceu de confessar seus pecados. Um dia, quando passava por montanhas, ladrões o atacaram. Decapitaram-no e fugiram. Quatro dias depois, quando dois franciscanos passaram pelo local, ouviram o cadáver gritar, pedindo a confissão. E a quarto dia per y vẽeron dos frades mẽores, e vozes deron o corp´ e a testa.[31] Assustaram-se, mas descobriram o corpo com a cabeça, milagrosamente, recolocada. O homem contou que os ladrões o mataram e demônios tentaram roubar-lhe a alma. A Virgem o protegeu dos demônios e recolocou sua cabeça no corpo para que pudesse fazer a confissão. Os frades reuniram uma grande multidão e o homem fez a sua confissão perante todos. Em seguida, a cabeça se separou do corpo e o homem morreu. As pessoas então louvaram a Virgem.[32]
Imagem 5: iluminura de página inteira da Cantiga 266.
Nas Cantigas de Santa Maria, os homens da igreja são representados com seus atributos: tonsura e trajes litúrgicos, monásticos ou de frades. Sofrimento e fé. Voto de pobreza. Desapego. A tonsura era um corte de cabelo no qual o topo da cabeça era raspado para formar uma coroa, prática iniciada pelos religiosos da Igreja Católica ainda no séc. V. Identificava, principalmente, os monges e frades.[33] Na quarta e quinta vinhetas (contadas a partir de cima, da esquerda para a direita) na iluminura há um franciscano a pregar no interior de uma igreja. Suas vestes são os atributos que o definem. Um manto rústico amarrado por uma corda. É tonsurado. Em sua mão esquerda ele porta um livro. Com a outra, chama a atenção daqueles que ouvem suas palavras. Os sermões dos franciscanos comoviam as plateias. O santuário está lotado de crentes. O texto da Cantiga 143 faz uma pontual citação a esse respeito: Mas un frade mẽor os fez vĩir e fez-lhes sermon, en que departir foi como Deus quis por nos remiir nacer, como dit´ avia.[34]
Na Cantiga 109, cinco demônios uniram forças para atormentar um homem. Ele partiu para Salas (Santa Maria de Salas, Itália), mas os demônios o impediram de continuar sua jornada. Dois franciscanos vieram e levaram-no para a igreja. Aquel ome, segund´aprendi, ta que dous frades vẽeron y mẽores, que o levaron dali aa eigreja logo sem falir.[35] Os demônios tentaram recuperar o domínio sobre o infeliz com a intervenção de um judeu, que, segundo eles, era seu servo – ca meus sodes e punnades de me servir (a relação “demoníaca” com o povo eleito não era nova no imaginário cristão medieval.[36] No entanto, o judeu fugiu e os demônios saíram do homem possesso. Todos deram graças à Virgem.
A Cantiga 123 mostra como Santa Maria guardou um frade mẽor dos diabos na ora que quis morrer, e torcia-sse todo com medo deles. Um franciscano, que se juntou à ordem quando criança e viveu uma boa vida, aproximou-se da morte. Bem com´em Bitoria guariu hũa vez a um frade mẽor.[37] Moribundo, seu corpo tornou-se contorcido e preto, incrivelmente feio. Outro frade acendeu uma vela em homenagem à Virgem e colocou-a na mão do agonizante. A cor preta desbotou e o rosto do monge ficou branco. No entanto, para a tristeza de seus confrades, ele morreu em poucos dias. A seguir, o frade morto apareceu a dois irmãos. Explicou que, antes de morrer, o seu rosto estava preto porque ele viu demônios, e que as velas fizeram os demônios fugir.
A Cantiga 239 relata o milagre ocorrido na cidade de Murcia. Um homem atormentado por uma dor lancinante convocou um franciscano e fez sua confissão, mas não mencionou seu engano: guardou, mas não devolveu o dinheiro que lhe confiaram. Chamade um prest´, a quen sse confessou, deste mẽores un frade.[38] Repetiu a mentira ante a imagem da Virgem. Imediatamente seu queixo caiu. Ele sentiu uma dor lancinante e não conseguiu falar. Estava assim em tal tormento que pensou que morreria, quando chamou o franciscano uma vez mais. Desta vez, ele admitiu que fez confissão falsa, perjúrio. Pediu ao frade para reembolsar o homem a quem ele devia dinheiro e, após três dias, morreu.[39]
6. São Domingos e a Ordem dos Pregadores
O papa da Imagem 8 notabilizou-se por sua luta pelo primado da Igreja Católica frente ao poder secular e o combate às heresias. Em 1210, aprovou a criação da Ordem dos Frades Menores (Ordo Fratrum Minorum). Os propósitos do IV Concílio de Latrão (1215) soaram como música para os ouvidos de Domingos de Gusmão (c. 1170-1221), fundador da Ordem dos Pregadores (Ordo Prædicatorum).[40] Ao instalar-se na cidade de Toulouse, Domingos estabeleceu ali uma comunidade de clérigos. Sob sua orientação, deveria formar religiosos mais devotos à salvação das almas, à conversão. Domingos estreitou amizade com o bispo local, Fulco. Este, em 1215, aprovou a fundação da Ordem dos Pregadores. Ambos então se dirigiram ao IV Concílio de Latrão para obterem a confirmação papal. Sob a regra de Santo Agostinho, obtiveram a sanção do papa.[41]
Imagem 6: Livro de Horas com calendário, litanias e orações. O Sonho do papa Inocêncio III. Inglaterra, séc. XIV. Folio 8 verso. Iluminura de página inteira. Abrigado na British Library.
Uma fina folha de ouro é o pano de fundo ideal para uma imagem sagrada. Circunscrita ao limite marginal quadrilobado, há a representação do papa Inocêncio III (c. 1160-1216) enquanto dorme. O mundo onírico sempre esteve presente na História, na Arte. Em seu sonho, o papa suporta o colapso da basílica de São João de Latrão. Em seu auxílio, dois dominicanos seguram os pináculos que desmoronam. Sustentáculo de uma instituição que corria grave perigo, as ordens mendicantes foram fundamentais para a expansão da Igreja. Sem pompa nem riqueza, ofereciam aos espíritos e aos corações dos gentis homens o ideal de uma vida devota a Jesus.
Compreenderemos melhor os ideais e as práticas dos dominicanos se nos voltarmos para ao mundo no qual viviam. As heresias tomavam forma e força agressivas. Nas escolas anexas às catedrais, a filosofia e outras vertentes do conhecimento, por vezes, tentavam sobrepujar a Teologia e questionavam as verdades da fé. Por sua vez, o ambiente no qual os dominicanos tanto se prepararam como se tornaram mestres, foi o da universidade. O mundo acadêmico era irrequieto, pois era um espaço das livres disputas de palavras, dos embates filosóficos, das querelas intelectuais.[42]
Preparavam-se os dominicanos, desta forma, para enfrentar os vícios do mundo. Para convertê-lo. Frente a frente. Tornaram-se eruditos. Conhecedores da palavra e dos grandes teólogos da Igreja. Ademais, as disputas forjaram exímios debatedores. Capacitaram-nos a argumentar de forma clara, objetiva e bem fundamentada. Em 1217, os dominicanos foram autorizados a pregar em todos os lugares. Percorriam-nos a pé. Com um bastão na mão, humildes. Não tinham dinheiro. Seus pertences se resumiam a alguns livros de Teologia e passagens da Bíblia. Mendicantes. Pediam pelo caminho comida e abrigo. Missão cumprida, retornavam aos seus conventos para descansar, estudar e relatar suas experiências ao superior. Em seguida, voltavam a pregar pelo mundo.[43]
A partir do séc. XIII, o exército de Deus era formado pelas ordens mendicantes. Em especial, franciscanos e dominicanos. Combatiam as heresias e pregavam uma vida menos afeita aos vícios. Prometiam a Salvação Eterna. O instrumento era a palavra. Tornaram-se mestres nos sermões conhecidos na Idade Média como exempla. Com os mendicantes, os sermões saíram das igrejas e tomaram a via pública. Público alvo: o povo. Os exemplas foram sermões criados a partir de histórias de fé e de exemplos a serem seguidos. Relatos breves e enfáticos da vida de mártires e de virgens piedosas. Milagres da Virgem e dos Santos. Mas, principalmente, de pessoas comuns que encontraram a Salvação na fé. Ensinar pelo exemplo. Por meio de uma linguagem que, sem perder conteúdo, era destinada aos simples, portanto, de fácil entendimento. Tinham uma oratória cativante, emocionavam a plateia. Eram amados, idolatrados pelo público. Étienne de Bourbon (1180-1261), inquisidor e dominicano, escreveu o “Tratado das diversas matérias a pregar” (Tractatus de diversis Materiis Praedicabilibus). Para ele, o sermão tinha três objetivos principais: 1) inspirar o medo da condenação eterna; 2) indicar o caminho da salvação e 3) lutar contra os vícios. Sua obra está dividida em cinco dos sete dons do Espírito: temor, piedade, ciência, força e conselhos.[44]
6.1 A Ordem dos Pregadores nas Cantigas de Santa Maria: Cantiga 103
Uma das cópias das Cantigas de Santa Maria está abrigada na Biblioteca do complexo de El Escorial, Madri – Espanha com o nome de “Códice Rico”.[45] A imagem mostra a Cantiga 74: Como Santa Maria quiser deffender, non lle pod´o demo niun mal fazer.[46]. Na Imagem 7, um diagrama que mostra as principais características formais e compositivas mais comuns na obra:
Imagem 7: fac-símile das Cantigas de Santa Maria. Cantiga 74.
1. Notações musicais; 2. Texto da cantiga; 3. Iluminura historiada de página inteira; 4. Verso do folio; 5. Frente do folio; 6. Letra capitular ornamental; 7. Número da cantiga em algarismos romanos; 8. Letra capitular; 9. Título da cantiga; 10. O refrão da cantiga se repete nos textos em vermelho.
Nas Cantigas de Santa Maria todo relato de milagre ou louvor é acompanhado por uma iluminura historiada de página inteira, na qual o texto é representado iconograficamente.[47] A estrutura, a forma e o estilo variam em poucos detalhes. Manteve-se a mesma norma para a composição de todas as imagens do códice. A estrutura é formada por seis vinhetas que representam a história de cima para baixo, da esquerda para a direita. As formas ornamentais são compostas por margens com figuras em formato de cruz grega ou flor quadrilobada, separadas por imagens heráldicas dos reinos de Castela e Leão (Castelo e Leão) e do Sacro Império Romano Germânico (águia). O gótico francês manifesto nos motivos arquitetônicos, nas representações de pinturas e de esculturas e no panejamento das roupas. As figuras humanas, seus gestos e expressões faciais, tem grande similaridade com a estética dos códices alemães da primeira metade do séc. XIV.[48]
Imagem 8: iluminura de página inteira da cantiga 103.
O frade dominicano é identificado por seu vestuário. Viver no século poderia corromper o espírito. Por isso, o prólogo das primeiras regras da ordem dominicana instituiu que, em todas as horas canônicas, os frades deveriam recitar ou cantar breves passagens da Bíblia ou de livros de Teologia. Desta forma, mantinham a fé inabalável e se protegiam contra a tentação dos romances de cavalaria e dos livros dos filósofos antigos, famosos na época.[49] Em todas as vinhetas da iluminura, o frade é representado em diversas práticas comuns da vida cotidiana de um dominicano medieval. Na primeira vinheta, acima à esquerda, o frade está ajoelhado à frente do altar da Virgem Maria, com os braços abertos, posição de um simbolismo teológico fundamental. De Santo Agostinho a Tomás de Aquino, desde os primeiros séculos da Idade Média, teólogos refletiram sobre a genuflexão na oração. O gesto do frade denota sua adoração, humildade e penitência.[50]
Em nosso levantamento temático nos textos das Cantigas de Santa Maria, não identificamos termos diretamente relacionados com a ordem dos pregadores, os dominicanos. No entanto, a iluminura da Cantiga 103 (assim como outras 22 iluminuras) representam frades com essa característica vestimenta e corte de cabelo, a tonsura. Um levantamento bibliográfico e de imagens de pesquisadores e de obras que constam nas referências deste trabalho embasou nossa hipótese de que os frades pregadores são visivelmente reconhecíveis por sua túnica branca coberta por um manto negro, além de certas práticas condizentes com suas regras. Nele, notemos que o princípio máximo da ordem, salvar almas em Cristo, está textualmente representado, pois, uma alma salva, viveria no Paraíso, na Jerusalém Celeste. Quimera de todo cristão, sobretudo de um dedicado dominicano, ver, viver no Paraíso seria uma maravilhosa e maior recompensa por sua vida abnegada e dedicada a aumentar o rebanho de Deus.
O quadro abaixo contém um extrato do texto da cantiga em sua língua original, o galego-português, acompanhada por nossa tradução:[51]
103
Como Santa Maria feze estar o monge trezentos anos ao canto da passarya,porque lle pedia que lle mostrasse qual era o ben que avian os que eran en Paraiso.
Como Santa Maria fez um monge estar por trezentos anos ao canto do passarinho porque lhe pedia que mostrasse qual era o bem que tinham os que estavam no Paraíso.
Quena Virgen ben servirá
Quem à Virgem bem servir
a Parayso irá.
ao Paraíso irá.
E daquest' un gran miragre vos quer' eu ora contar,
E sobre isso um grande milagre vos quero agora contar,
que fezo Santa Maria por un monge, que rogar
que fez Santa Maria a um monge que sempre lhe rogava
ll'ia sempre que lle mostrasse qual ben en Parais' á
que mostrasse qual bem há no Paraíso
E que o viss' en ssa vida ante que fosse morrer.
e que o visse ainda em vida, antes de morrer.
7. Unidos na difusão da fé, os onipresentes Frades Pregadores
Imagem 9: São Boaventura. Lenda e vida de São Francisco de Assis. Florença – Itália. Abrigado na British library. Detalhe da iluminura. Letra capitular historiada.. Folio 26, frente.
Rodeado de rostos angelicais, São Francisco de Assis surge dos céus para o seu mais renomado biógrafo, São Boaventura (1221-1274). Sua biografia, a Legenda Major, foi a única aceita pela Igreja, a partir de 1266.[52] Com a mão direita, e partir de um facho de luz, Francisco conduz suas palavras à boca do escritor, extasiado com sua visão celestial. Já nomeado cardeal, Boaventura está vestido com um refinado manto solene sobre sua veste de frade franciscano. Sua mitra[53] – insígnia da condição de sacerdote – pode ser apreciada em uma das prateleiras. Como um elo entre os dois espaços sagrados, Santo Tomás de Aquino (1225-1274), frade dominicano, irrompe na sala. É seguido por outro dominicano e um franciscano. São Boaventura e Santo Tomás de Aquino têm, em torno de suas cabeças, halos de luz dourada, símbolos de suas santidades. Juntas, as ordens de mendicantes eram a força necessária para fortalecer as muralhas simbólicas da Igreja católica. Juntas, formavam o novo exército de Deus como nos mostra este extrato do texto da Cantiga 264:
“E por este miragre deron grandes loores todos comũalmente, maoyores e mẽores, aa Virgen bẽeita, que aos peccadores acorr´ e a coitados nas coitas noit´ e dia”.[54]
A força das duas principais Ordens Mendicantes da Idade Média vinha do respeito mútuo e do trabalho em prol de uma Igreja Católica forte e libertadora. Com sua força expansionista, franciscanos e dominicanos reescreveram a História do Ocidente. Em vários de seus aspectos e matizes. Com eles, a Europa ganhou o mundo. Por eles, o Cristianismo se manteve Modernidade adentro.
8. REFERÊNCIAS
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Notas:
[1] Medievalista da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Site: www.ricardocosta.com
[3] BOUCHER, François. “A Europa dos séculos XII a XIV.” In: História do Vestuário no Ocidente. São Paulo: Cosac Naify, 2010, p. 146.
[4] MORRISON, Elizabeth. Far from marginal: images in the margins of the Abbey Bible. Disponível em: http://blogs.getty.edu/iris/far-from-marginal-images-in-the-margins-of-the-abbey-bible.
[5] PEREIRA, Maria Cristina Correa Leandro. “À margem da página: imagens “marginais” nos manuscritos medievais.” In: IX CONGRESSO APCG: ASSOCIAÇÃO DE PESQUISADORES DE CRÍTICA GENÉTICA. Belo Horizonte: C/rte, 2008, p. 216.
[6] BERLIOZ, Jacques. Monges e religiosos na Idade Média. Lisboa: Terramar, 1994, p. 10.
[7] BASCHET, Jérôme. “A expansão ocidental das imagens”. In: A Civilização Feudal. São Paulo: Globo, 2006, p. 166.
[8] DUBY, Georges. O tempo das catedrais. Lisboa: Estampa, 1979, p. 57.
[9] WOLF, Norbert. Giotto. Colônia: Taschen, 2007, p. 7.
[10]Site oficial da Abadia. Ver em: LE MONT SAINT MICHEL. Disponível em: http://www.ot-montsaintmichel.com/fr/histoire.htm.
[11] DUBY, Georges. História artística da Europa: a Idade Média. Tomo I. São Paulo: Paz e Terra, 1995, p. 71.
[12] AFONSO X, o Sábio. Cantigas de Santa Maria. Edição crítica de Walter Mettmann. V. 1. Madri: Castalia, 1986, p. 156.
[13] BERLIOZ, op. cit., 1994, p. 22.
[14] (Regra de São Bento [trad.: Dom João Evangelista Enout, OSB].
[15] DUBY, op. cit., p. 29.
[16] FRA ANGELICO. Musée du Louvre. Ver em: http://www.louvre.fr/oeuvre-notices/le-couronnement-de-la-vierge.
[17] DUBY, Georges. O tempo das catedrais. Lisboa: Estampa, 1979, p. 170.
[18] Ibid., p. 122.
[19] LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: UNESP, 1998, p. 95.
[20] DUBY, op. cit., 1995, p. 77.
[21] COSTA, Ricardo; DANTAS, Bárbara. “A falssidad dos judeus é grand: uma representação de judeus nas Cantigas de Santa Maria (séc. XIII).” In: X ENCONTRO INTERNACIONAL DE ESTUDOS MEDIEVAIS DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS MEDIEVAIS (ABREM), Brasília, 2013, p. 507-514.
[22] COSTA, Ricardo. “Las traducciones en el siglo XXI de los clásicos medievales – tensiones, problemas y soluciones: el Curial e Güelfa.” In: EHUMANISTA/IVITRA 3 (2013), University of California at Santa Barbara, USA, p. 325-346. Disponível em http://www.ricardocosta.com/artigo/las-traducciones-en-el-siglo-xxi-de-los-clasicos-medievales-tensiones-problemas-y-soluciones.
[23] WOLF, Norbert. Giotto. Colônia: Taschen, 2007, p. 10.
[24] CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. “História e Análise de Textos”. In: CARDOSO, C.F. & VAINFAS, R. Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campos, 1997, cap. 17, p. 398.
[25] LE GOFF, Jacques. As ordens mendicantes. In: BERLIOZ, op. cit., 1989, p. 228-229.
[26] AFONSO X, o Sábio. Cantigas de Santa Maria. Edição crítica de Walter Mettmann. V. 4. Madri: Castalia, 1989.
[27] GARCIA-VILLOSLADA, Ricardo. Historia de la Iglesia Católica II. Edad Media (800-1303). La cristiandad en el mundo europeo y feudal. Madrid: BAC, 2003, p. 674.
[28] BERLIOZ, op. cit., 1989, p. 229.
[29] DUBY, op. cit., 1995, p. 88.
[30] AFONSO X, op. cit., p. 576.
[31] Ibid., p. 296.
[32] THE OXFORD Cantigas de Santa Maria Data Base. Disponível em: www.csm.mml.ox.ac.uk.
[33] LEVENTON, Melissa. História ilustrada do vestuário. São Paulo: Publifolha, 2009, p. 90-93.
[34] AFONSO X, op. cit., 1988, p. 120.
[35] Ibid., 1988, p. 34.
[36] COSTA, Ricardo; DANTAS, Bárbara. “Cantigas de Santa Maria de Afonso X: análise comparativa entre texto e imagem na Cantiga 4.” TRASLATIO STUDII: PROBLEMATIZANDO A IDADE MÉDIA. UFF, 2012, Niterói. In: FERREIRA, Álvaro Mendes (org.) et. al. Problematizando a Idade Média. Niterói: PPG/HISTÓRIA, 2014, p. 16-34.
[37] AFONSO X, op. cit., p. 70, nota 295.
[38] Ibid., 1988, p. 326.
[39]Ibid, p. 325.
[40] GARCIA-VILLOSLADA, op. cit., 2003, p. 668.
[41] BERLIOZ, op. cit., 1994, p. 265.
[42] Ibid., p. 291.
[43] Ibid., p. 274.
[44] Ibid., p. 277-282.
[45] A PUC-Minas adquiriu um fac-símile de toda a série documental deste manuscrito.
[46] AFONSO X, op. cit., 1986, p. 242.
[47] LEÃO, Ângela Vaz. Novas leituras, novos caminhos: Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio. Belo Horizonte: Veredas & Cenários, 2008, p. 9
[48] WALTHER, Ingo F.; WOLF, Norbert. Obras Maestras de la Iluminación. Madrid: Taschen, 2005, 188.
[49] GARCIA-VILLOSLADA, op. cit., 2003, p. 670.
[50] BERLIOZ, op. cit., 1994, 157-159.
[51] AFONSO X, op. cit., 1988, p. 16-18.
[52] BERLIOZ, op. cit., 1994, p. 246.
[53] Mitra: chapéu cônico, nas cores branca e dourada, fendido na parte superior, com duas fitas pendentes.
[54] AFONSO X, op. cit., 1988, p. 16.
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